Somos ácidos ou alcalinos?





Quando começamos a compreender melhor a verdadeira natureza de nossa vida física iremos construir uma ponte mais sólida entre o nosso interior e o exterior, o emocional e o físico.

O emocional sustentará  nossa vitalidade física.

São nossos hábitos, pensamentos e sentimentos que criam barreiras que obscurecem a nossa verdadeira saúde integral.

Estejamos dispostos a abrir uma visão mais ampla para tornar nossa vida cheia de novas transformações.

A mudança de hábitos e atitudes mudam a nossa realidade influenciada por costumes equivocados que nos foram passados, pelo ambiente no qual vivemos, por padrões de comportamento, enganos e decepções.

Todos nós estamos precisando de cura em algum nível, seja físico ou emocional.

O corpo físico expressa todas as capacidades e deficiências que temos desde a gestação na formação das suas células.
Desarmonias e desequilíbrios se manifestam em nós para serem tratados.

Como perceber:

Somos ácidos ou alcalinos?
Muitas pessoas nunca ouviram falar do equilíbrio entre acidez e alcalinidade.
Compreender que o corpo tem que nivelar o PH do sangue a uma medida ligeiramente alcalina para sobreviver.

Acidez e alcalinidade são medidas do PH em nosso organismo (Potencial de Hidrogênio)

O nosso PH deve permanecer no lado alcalino.

Um organismo ácido está sujeito a uma série de doenças que se desenvolvem no meio ácido.
A doença não prospera em um organismo adequadamente alcalino.

A escala do PH vai de 0 a 14
PH = O          MÁXIMO DE ACIDEZ
PH = 7          NEUTRO
PH = 14        MÁXIMO DE ALCALINIDADE.
Ex.: o PH do estômago é de 1, o da água é de 7 (neutro)
O bicarbonato de sódio é de 12.

O sangue leva todos os nutrientes que ingerimos para o corpo deve ter o PH entre 7, 36 a 7, 42, ou seja, levemente alcalino.

Todos os alimentos da natureza contêm elementos ácidos e alcalinos em sua formação.

Existem muitos alimentos geradores de ácidos que podem comprometer a saúde com a acidose (comum na diabetes).

Dê preferência a 70 % de alimentos alcalinos e 30% de alimentos ácidos

Muitas vezes um alimento de sabor ácido após a sua ingestão, se transforma em alcalino.
Temos como exemplo os limões, considerado como um fruto ácido.

Podemos medir o nosso PH através dos alimentos que ingerimos:
Mesclar alimentos alcalinos com os ácidos.

Alimentos ácidos que produzem acidez

Todos os de origem animal e seus derivados.
Frituras, remédios, antibióticos, anfetaminas, quimioterapia, radioterapia, nicotina, café, álcool, açúcar, chocolate, alimentos congelados, adoçantes, refrigerantes.

Alimentos alcalinos que produzem alcalinidade.

Todas as frutas frescas, secas, folhas verdes, legumes, raízes, feijões, uva passa, melado, couve flor cru, milho verde, cenoura, beterraba, batata doce, nabo, rabanete, abobrinha, banana, amêndoas, castanha do Pará, água mineral alcalina, maçã, pera, quiabo, chuchu ralado cru, abóbora, manga, uva, melão, salsa, melancia, mamão, amora, limão, salsão, alface, escarola, cebola, alho, coentro, rabanete, brócolis, couve-flor, chá verde… Espinafre, soja, pimenta caiena.

Limão: um grande segredo que a natureza reservou para a saúde humana.
O limão pode ser considerado como o rei dos frutos curativos, agindo como antibiótico e antisséptico intestinal.
Alcaliniza o organismo e fortalece o sistema imunológico enfraquecido.

Atitudes emocionais que acidificam o sangue: 
Sentimentos de raiva, inveja, ciúme, excesso de julgamento, críticas, exercícios físicos obsessivos, competições, disputas, violência, injustiças são atitudes emocionais que alcalinizam o sangue…

Atitudes emocionais que alcalinizam o sangue:
 Sentimentos de amor ao próximo, emoções de afetividade e compaixão, contemplar o belo, etc


A psicanálise e o autismo





Segundo os manuais de psiquiatria haveria uma tríade de
comportamentos que caracterizam este grupo de transtornos, esses seriam:
dificuldades na interação social, na comunicação e atividades e interesses
consideravelmente restritas e repetitivas.

As prevalências atuais estimadas são de 0,9% segundo os Centers for
Disease Control and Prevention (2009) para o conjunto dos transtornos globais
do desenvolvimento e, com uma incidência três a quatro vezes maior entre os
meninos (AUSSILLOUX, 2005).

Durante muito tempo, o estudo das causas do autismo foi campo de
conflito entre organicistas e os defensores de uma psicogênese como única
causa. Hoje em dia, embora este conflito ainda seja muito forte, parece haver
uma abertura maior para um diálogo entre as diversas abordagens – sobretudo
entre a psicanálise e as neurociências.

No momento atual, ninguém pode afirmar uma causa única para o
autismo. Assim, pensamos que o autismo infantil precoce pode ser considerado
como uma organização psicopatológica suscetível de se constituir como
resposta a fatores iniciais muito diversos, tanto orgânicos como psíquicos
(Tordjman, 2005).

É neste sentido que Hochmann (2007) fala que o autismo, como a
histeria nos tempos de Freud, pode servir de paradigma em função das
questões que suscita, exigindo um grande dialogo entre os diversos campos do
conhecimento.

Quer dizer que o autismo, em função de sua precocidade e de sua
multiplicidade causal representa um desafio, tanto do ponto de vista da
medicina, da pesquisa, da psiquiatria e da psicanálise.

Embora psicanalistas e psicólogos do desenvolvimento concordem que
as relações precoces entre os humanos fundam as bases para as outras
capacidades sociais (Alvarez e Lee, 2004), há divergências na forma de pensar
O estabelecimento da relação com o outro no processo de desenvolvimento
humano.
A noção de intersubjetivade pode ser utilizada como eixo condutor para
pensar este processo. Sabe-se que tal noção assume diferentes sentidos de
acordo com os diversos contextos teórico-metodológicos considerados.
Trevarthen, psicólogo e pesquisador do desenvolvimento humano,
define a intersubjetividade como a capacidade psicológica de ter e partilhar
objetivos, interesses, emoções e de estar pronto para comunicar os
acontecimentos intrinsecamente psicológicos a outras pessoas (2005).
Ele foi um dos primeiros a propor e investigar a intersubjetividade como
inata. Seus estudos sobre as competências precoces do recém nascido
evidenciaram que o mesmo tem um papel ativo no laço que estabelece com
seus cuidadores.

“Os recém nascidos, com seus cérebros complexos, mas imaturos,
com aptidões cognitivas limitadas e um corpo frágil, se mostram
motivados para comunicar-se com as formas expressivas e rítmicas de
interesse e de emoção oriundas do outro, e o fazem através de um
comportamento diferente do comportamento instintivo, que atrai o
cuidado parental para a satisfação de necessidades biológicas
imediatas.”5 (Trevarthen & J. Aitken, 2003, p. 309)

Os estudos de Trevarthen e de diversos colaboradores indicariam que
esta cooperação expressiva e psíquica entre o bebê e o adulto pode ser
observada nas interações espontâneas desde o nascimento (Gratier, 2007). As
afirmações de Trevarthen sobre a capacidade inata para a intersubjetividade se
apóiam sobre a hipótese de que bases dos sistemas emocionais e de
motivação se organizam muito antes do nascimento (2004).




“Para partilhar o controle mental com outras pessoas, o lactente deve
possuir duas competências. De um lado, ele deve ao menos mostrar
que possui os rudimentos de uma consciência individual e intencional.
É o que eu chamo de subjetividade. De outro lado, para poder
comunicar, o lactente deve poder adaptar ou ajustar seu papel
subjetivo à subjetividade dos outros: é a intersubjetividade.”*
(Trevarthen & J. Aitken, 2003, p. 315)

Neste sentido, ele propõe que um bebê se organiza como um sujeito
desde o seu nascimento e que ele visa estabelecer relações com os outros
seres humanos.

Se os diversos estudos de Trevarthen e colaboradores tendem a
enfatizar o inatismo dos processos fundamentais requeridos pela
intersubjetividade, outros autores tendem a destacar as etapas pelas quais o
processo de sua instalação tem que passar.

Stern (2004, 2005) descreve a intersubjetividade como um processo que
deve ser definido em diversas etapas onde o bebê e os pais têm um papel a
ocupar. Ele fala que inicialmente os pais devem conseguir ler o estado
emocional do recém nascido, que devem também se comportar em resposta a
este estado e que enfim o bebê deve estar na medida de compreender que a
reação parental tem relação com sua experiência emocional. Ou seja, um
processo que vai se construindo. Este processo de construção da
intersubjetividade depende então da dupla adaptação entre os pais e a criança.

Segundo Golse (2004), o processo de acesso à intersubjetivdade pode
ser compreendido como um movimento de diferenciação que vai permitir à
criança experimentar, sentir e integrar que o eu não é o mesmo que o outro.

Se levarmos em conta a obra do Freud, torna-nos difícil pensar na idéia
de um inatismo de uma organização como o EU. Em seu texto sobre o
narcisismo ele coloca que “uma unidade comparável ao Eu não existe desde o
começo no indivíduo; o Eu tem que ser desenvolvido” (p.18),

O que se pretende então é discutir esse conceito a partir de um ponto de
vista psicanalítico, dado que nos parece ser um importante instrumento clínico.

Para discutir a noção de intersubjetividade partindo da psicanálise é
necessário destacar a dimensão inconsciente da subjetividade. Marcelli propõe
que na intersubjetividade “não se trata somente do fato de que dois sujeitos
interessem-se um pelo outro. Pois se fosse assim, a intersubjetividade se
resumiria a uma troca consciente e seria definida simplesmente como uma
relação interpessoal” (2004, p. 55)*.

Assim, seguindo nesta forma de pensar a intersubjetividade, temos “o
encontro de um sujeito, animado de pulsões e de uma vida psíquica
inconsciente, com um objeto, que é também um outro sujeito, e que é também
animado por uma vida pulsional de onde uma parte é inconsciente”*
(Roussillon, 2004b, p. 735).

O conceito de pulsão foi definido por Freud como:

“um conceito limite entre o somático e o psíquico, como o representante
psíquico dos estímulos oriundos do interior do corpo e que atingem a alma,
como uma medida do trabalho imposto à psique por sua ligação com o corpo”
(1915/2010, p. 57).

 Utilizando o conceito de pulsão de Freud, podemos melhor compreender
a idéia de que o recém nascido é mobilizado pela busca da relação. Quer dizer
é para além da satisfação das necessidades biológicas imediatas que o bebê
procura entrar em contato com os outros (1905). De fato, as pulsões – diferente
das necessidades – não são satisfeitas sempre do mesmo modo. Segundo
Freud, já que a pulsão “não ataca de fora, mas do interior do corpo, nenhuma
fuga pode servir contra ela” (1915, p.54).

Lacan propõe pensar a pulsão como algo “que não tem dia nem noite,
não tem primavera nem outono, que ela não tem subida nem descida. É uma
força constante” (1964, p.157). Ou seja, segundo Lacan, em função das
pulsões, a vida psíquica é de um outro registro que aquele segundo a
satisfação das necessidades (1969).

“A pulsão apreendendo seu objeto, aprende de algum
modo que não é justamente por ai que ela se satisfaz.
Pois, se se distingue, no começo, da dialética da
pulsão, o Not e o Bedürfnis, a necessidade e a
exigência pulsional é justamente porque nenhum
objeto de nenhum Not, necessidade, pode satisfazer a
pulsão.(...) Essa boca que se abre no registro da
pulsão – não é pelo alimento que ela se satisfaz.”
(Lacan, 1964, p.159)

Este aspecto radical do funcionamento psíquico humano “que entende
as necessidades como demandas desejando serem satisfeitas faz com que o
bebê, desde que ele entre em contato com o outro, deixe de ser um ser de
necessidade para se tornar um ser do desejo”* (Crespin, 2007, p.22).

Então, mais do que necessidades, é preciso que o bebê tenha também
demandas: que ele saia do registro da necessidade e possa entrar no campo
do desejo. Pode-se dizer que mais do que fome, é preciso que o bebê tenha
apetite.

O trabalho de Laznik (2004, 2006, 2007) permite-nos estabelecer uma
articulação entre a concepção lacaniana das pulsões e a noção de
intersubjetividade de Trevarthen. Retomando o conceito de pulsão proposto por
Freud (1915) e revisitado por Lacan no seu seminário “Os quatro conceitos
fundamentais da psicanálise”, Laznik nos convida a refletir sobre o papel do
circuito pulsional na emergência psíquica do recém nascido, idéia fundamental
para entender o processo de constituição subjetiva, quer dizer, a forma como
abandonamos o estatuto de ser de necessidade para tornarmo-nos seres de
desejo.


Segundo Laznik (2007), a pulsão cumpre sua meta de satisfação por
meio do estabelecimento de um circuito de três tempos. No primeiro tempo o
bebê vai em direção ao objeto oral para se satisfazer. Freud qualificou este
tempo como ativo. O segundo tempo é reflexivo ou auto-erótico. É o que Freud
descreveu como o retorno da pulsão sobre uma parte do corpo próprio. É o
tempo da capacidade de se acalmar chupando o dedo, a mão... No terceiro
tempo, o bebê se faz, ele mesmo, objeto de um outro. O bebê se oferece como
objeto de satisfação para o outro. Seria como quando o bebê coloca o dedo na
boca da sua mãe e se delicia com a brincadeira que ela faz. Freud qualificou
este tempo de reflexivo, mas Laznik o pensa como uma passividade ativa.
“Com efeito, é muito ativamente que ele vai se fazer comer por este outro, para
o qual, ele se faz ele mesmo, objeto” (2004, p.28).

“O bebê não é passivo na situação, claramente ele a procura. É ele que
vai procurar se fazer olhar, se fazer ouvir ou bem, ao nível oral, se
fazer “comer o pezinho”. Este aspecto eminentemente ativo do terceiro
tempo do circuito pulsional havia sido evidenciado por Lacan que o
chamava o tempo do “se fazer”*. (Laznik, 2000, p. 73)

É somente depois do terceiro tempo que se pode falar em satisfação
pulsional (Laznik, 2000). Lacan coloca que é “no momento em que o fecho se
fechou, quando é de um pólo ao outro que houve reversão, quando o outro
entrou em jogo, que o sujeito tornou-se por termo terminal da pulsão” (1964,
p.173).

Este ciclo se desenvolve diversas vezes na relação mãe-bebê, mas é
somente após a instauração do terceiro tempo que os outros dois adquirem
sentido. Como disse Lacan (1964) este sujeito que existe graças ao outro,
aparece quando o circuito da pulsão pode se fechar. É somente com a
dimensão do Outro que a função da pulsão pode existir.

Assim, os movimentos do bebê de procura do seio e de chupar o dedo
para se acalmar podem enfim ser considerados como eróticos. Porque só
podemos falar em registro pulsional no momento onde o gozo do Outro esta

colocado em questão. É este momento de enganchamento ao desejo do outro
que permite ao infans de aceder ao status de sujeito. É neste sentido que
Lacan afirma que o “desejo do homem encontra seu sentido no desejo do
outro, não porque o outro tenha as chaves do objeto desejado, mas porque o
seu primeiro objetivo é ser reconhecido pelo outro” (1953, p.132).

Golse, apoiando-se na revisão da teoria lacaniana feita por Laznik diz
que o terceiro tempo do circuito pulsional pode ser caracterizado como o
momento de ascensão á intersubjetividade (2004, p.449).

Quer dizer que o momento de fechamento do circuito pulsional pode ser
então entendido como o momento de troca intersubjetiva se esta última é
pensada de um ponto de vista psicanalítico, ou seja, orientada pelo desejo
como decorrente da construção do circuito pulsional.

É o momento de enlaçamento ao desejo do outro que permita ao infans
de aceder ao estatuto de sujeito. Deste modo, pensa-se ter descrito o processo
de nascimento psíquico, este processo de emergência do sujeito a partir do
laço que ele estabelece com o desejo do outro.

Como já foi dito, este processo não é inato e nem instintivo, exigindo
uma construção com múltiplas possibilidades. Este enlaçamento pode até
mesmo não acontecer. É por esta razão que é necessário pensar na sutileza
desses mecanismos e na multiplicidade de fatores que, tanto do lado do recém
nascido como do lado dos adultos que se enodam seu desejo ao dele, podem
impedir esta realização (Trouvé, 2002).

O autismo é característica da não realização deste processo. No autismo
o terceiro tempo do circuito pulsional não foi estabelecido. Não há enlaçamento
com o desejo do Outro. Sem negar a possibilidade de um suporte orgânico,
consideramos o autismo como uma falha na constituição subjetiva, como uma
impossibilidade da instalação de elementos fundamentais da construção
psíquica (Trouvé, 2004).

“O autismo parece colocar pela negativa a questão do
sujeito, mais exatamente de sua emergência. O autista
aparece como aquele que está preso, congelado no
processo de assunção subjetiva.” (Ansermet, 1999,
p.69)

É neste sentido que G. Crespin coloca que o autismo pode surgir:

“por fatores originados na criança (limiar de
receptividade do bebê muito diferente do da mãe,
acidentes pré-natais que impeçam o investimento do
bebê), seja com origem nos pais (estado depressivo,
lutos complicados, inscrição do bebê em uma filiação
impossível), ou ainda vinda do meio ambiente
(separações neonatais, anúncios de deficiências).”
(p.43, 2004)

Dentro da mesma idéia, Laznik coloca que independente das causas, o
autismo está ligado a uma falha no estabelecimento deste laço pulsional ao
Outro, sem o qual nenhum sujeito pode advir (2000b).

Mesmo se a questão do autismo não foi muito desenvolvida por Lacan, a
teoria lacaniana pode nos oferecer instrumentos importantes para compreender
esta falha no desenvolvimento. Lacan propõe que haja na constituição do
sujeito dois tempos: o da alienação e da separação.

Diferente da psicose, onde há uma falha na separação, no autismo é o
tempo da alienação que falta. Segundo C. Soler (1990), podemos situar o
autismo “em um antes da alienação: em uma recusa de entrar aí, um parar na
borda”. Quando não há esta alienação, a questão do outro não se coloca e é
neste sentido que se diz que o autista é alguém para o qual o Outro não existe,
e sobretudo alguém para quem o desejo do Outro não faz questão, não causa.


É assim que falamos do autismo quando não há este fechamento do
terceiro tempo do circuito pulsional, dado que é bem neste tempo que a
questão do gozo do Outro se instala. Quer dizer que não há momento de
reversão, de mudança de lugar, onde o bebê se oferece ele mesmo como
objeto para o gozo do Outro, representado em um primeiro momento pelo outro
materno.

Quando não há Outro, não se pode falar de pulsão, de Eros. E “se
retiramos o termo Eros no auto-erotismo, nós nos deparamos com o autismo”
(Laznik, 2006).

No autismo não há troca de olhar entre a criança e o outro, e quase não
há linguagem – e muitas vezes quando ela existe não serve muito à
comunicação. Como Kanner falava, em relação às crianças do seu estudo,
mesmo aqueles que falavam, não empregavam a linguagem com o objetivo de
se comunicar. Podemos relacionar isso com o que propõe Vanier (1993) que
coloca que mesmo se essas crianças estão na linguagem, elas não
apresentam o desejo de se comunicar.

Amelie Nothomb nos ensina sobre esta diferença:

“Os olhos dos seres vivos possuem a mais
impressionante das propriedades: o olhar. Não há
nada mais singular. (...) O que é o olhar? É o
inexprimável. Nenhuma palavra pode se aproximar
dessa substância estranha. Entretanto, o olhar existe.
Há mesmo poucas realidades que existem há este
ponto. Qual é a diferença entre os olhos que tem um
olhar e os olhos que não tem? Essa diferença tem um
nome: a vida. A vida começa ali onde começa o olhar”.
(2000, p.6)

 Evidentemente, ao falar dos olhos que não tem olhar não se trate de
deficiência visual. Bem ao contrário. Aqui se encontra a diferença entre o ver e
o olhar. Os autistas, a priori, não têm nenhum problema de visão, mas,
entretanto eles não conseguem olhar, dado que o olhar implica a instalação de
uma relação com o outro.

 Então há a fala e a visão, mas não a linguagem e o olhar. Assim, no
autismo, temos um corpo que não consegue sair da inscrição de um puro real;
não há inscrição simbólica.

 Para concluir aqui a fala, vemos que muitos psicanalistas (Jerusalinsky,
2008; Laznik, 1995 ; Crespin, 2007 ; Soler, 1990, entre outros) se interessaram
pela questão do autismo pelo que ela pode ser considerada como uma
possibilidade de compreender o processo de constituição psíquica do sujeito,
como se olhássemos do microscópio. Como propõe Ansermet (1999), o estudo
do autismo permite questionar as condições de nascimento subjetivo, para
além das leis do organismo.

Assim, o autismo nos ensina sobre este encontro – ou sobre a
impossibilidade deste encontro – entre a estrutura de um corpo e a inscrição
simbólica realizada através da dialética da relação ao Outro.